Por Que 'Premonição 6' é melhor do que esperávamos? (Comentário com Spoiler)

Num mundo onde o destino é quem puxa os fios, será que o riso também não é parte do plano? Ou até onde vai a brincadeira antes de virar tragédia? Premonição 6: Laços de Sangue chega com essa pergunta na mala e uma certeza na mão: o jogo da morte nunca foi tão cínico, nem tão consciente de si.

Essa consciência se traduz, entre outras coisas, em um senso de humor afiado – talvez o melhor da franquia até aqui. O filme sabe rir de si mesmo, e faz isso com cenas que beiram o absurdo sem perder a tensão. Um bom exemplo é a sequência do caminhão de lixo, ao som de Stronger, de Kelly Clarkson, cuja letra canta “o que não te mata te fortalece” enquanto tudo ao redor sugere exatamente o contrário. Mas, além do humor, existem algumas dinâmicas e escolhas de roteiro que tornam esse filme melhor do que o esperado.





"Premonição 6: Bloodlines" (2025) Imagem: Divulgação / Warner Bros. Pictures

Um dos maiores acertos do filme está no elenco. Richard Harmon se destaca como Erik, o emo sarcástico. Engraçado sem forçar, na medida certa. Já Owen Joyner (capa), vive seu irmão Bobby – com aquele carisma meio bobão adorável. E, pasme, você realmente se importa com eles. Nem todo mundo, claro, mas tem carisma o suficiente para não torcer só pelas mortes.

Aliás, Erik é mais do que um corpo esperando a próxima armadilha do destino. Ele é uma peça esperta do roteiro. Sim, tem a função de brincar com a expectativa do público, mas também representa uma chance rara na franquia: a de passarmos mais tempo com alguém genuinamente carismático. Não me lembro de algo assim acontecendo antes. O que me vem à mente são personagens execráveis, de moral duvidosa, encontrando os piores desfechos – talvez por não serem desenvolvidos o bastante para que pensássemos o melhor deles. Ou talvez tenham sido escritos como descartáveis desde o início – o que, dentro da lógica da franquia, até faz sentido.

De todo modo, a morte no mundo de Premonição não distingue mocinhos de vilões; ela persegue todos que “estragam” seu plano original. Mas aqui, ainda assim, com a permanência de Erik após escapar de uma morte certa, fica a pergunta: e se personagens como Tod – vivido por Chad Donella no primeiro filme, lá nos anos 2000 – também tivessem sobrevivido? O que teríamos descoberto sobre eles? Ou aquele cara do segundo filme, que morre de macarrão depois de ganhar na loteria... Que outras camadas poderiam ter sido exploradas, além do simples medo? A presença de Erik sugere que talvez existam mais histórias a serem contadas entre as visões e os acidentes.

Eu gosto quando, nesse caso, o roteiro vira e mostra algo inesperado pelos fãs da franquia. Pois era esperado que Erik virasse churrasco em sua tabacaria ou loja de tatuagens depois do incêndio, mas, não foi bem assim. É como se o roteiro perguntasse: e se a gente passasse mais tempo com esse cara, só pra fazer a morte dele valer realmente a pena? Essa construção dá peso e ironia às cenas, sem perder o espírito da saga. Pelo contrário, ela a enriquece.


Premonição 6: Bloodlines" (2025) Imagem: Divulgação / Warner Bros. Pictures

A parte nova da história envolve linhagens, família e um livro meio tosco – mas olha, funciona. Apesar da grandiosa abertura, o corte do passado para o presente, feito de forma abrupta como um sonho, pode causar estranhamento, especialmente para quem acompanha a franquia e está acostumado com outra lógica: normalmente, quem tem a visão é o protagonista. Aqui, quem tem a visão inicial é a personagem Stefani (vivida por Kaitlyn Santa Juana), numa espécie de conexão geracional que surge em sonho. E é ela quem, em busca de respostas, procura o parente distante. É uma quebra de fórmula, sim, mas uma que traz surpresas, reviravoltas e aquele bom e velho “hmm, não esperava isso” que faz parte do charme da saga quando ela decide se arriscar.

Laços de Sangue entende bem o que é ser um filme da franquia Premonição, e talvez por isso funcione tão bem. Respeita o legado, mas não sem rir dele. Brinca com a nossa expectativa o tempo todo. É nesse equilíbrio entre ironia e admiração que o filme encontra seu ritmo. Mais do que apenas montar a próxima sequência de mortes criativas, ele nos lembra por que ainda estamos aqui assistindo – e por que gostamos tanto. Desde as primeiras cenas, fica claro que estamos diante de algo mais consciente, espirituoso e até cativante.

Tony Todd está no filme. Cena rápida, mas especial. E, considerando que ele nos deixou no ano passado... essa cena bate diferente. Sutil, quase uma homenagem. Um aceno respeitoso ao rosto mais marcante da franquia.

Talvez o destino seja inevitável. Mas o caminho até lá – e os personagens que encontramos pelo caminho – nunca foram tão divertidos.


Trailer Oficial Dublado


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