ROSALÍA mistura pop e clássico em nova colaboração com Björk (Especial de Halloween)

A megastar espanhola Rosalía retorna com seu novo single Berghain, primeiro vislumbre do álbum Lux, marcado para lançamento em 7 de novembro. A faixa reforça seu histórico de fusão entre gêneros, desta vez explorando plenamente seu lado clássico. Gravada com a London Symphony Orchestra sob regência de Daníel Bjarnason, a música conta ainda com o coro Escolania de Montserrat i Cor Cambra Palau de la Música Catalana, além da colaboração de Björk e Yves Tumor.

Antes do lançamento, Rosalía provocou os fãs com uma imagem críptica de partitura em seu Substack, acompanhada de um vídeo em que uma orquestra vestida de preto a segue pelas ruas. No clipe oficial, dirigido por Nicolás Méndez em Varsóvia, a cantora aparece como uma viúva acompanhada pela mesma orquestra enquanto realiza suas atividades diárias, criando uma atmosfera entre o urbano e o teatral.




Videoclipe "Berghain"


Musicalmente, Berghain abre com explosões de violinos e cordas dramáticas reminiscentes de Vivaldi, antes de entrar no refrão cantado pelo coro. Rosalía interpreta os dois primeiros versos em alemão, um dos vários idiomas que domina, lembrando o gesto que fez durante a turnê MOTOMAMI em Berlim. A faixa mistura elementos de reggaeton, pop experimental e música clássica, consolidando o estilo de Rosalía de transformar o pop em uma experiência quase sinfônica.

O videoclipe e o single reforçam a reputação da artista como alguém que constantemente ultrapassa os limites do gênero, equilibrando tradição, inovação e colaboração internacional, além de mostrar que seu universo musical agora caminha entre o clássico, o urbano e o místico/fantasioso.




"Berghain" por Nicolas Méndez

O que mais me intriga em Berghain é como Rosalía e Björk criam uma espécie de diálogo musical entre o humano e o divino. Em espanhol, a primeira abre com versos que soam quase domésticos, íntimos, mas carregados de uma poesia delicada:


Yo sé muy bien lo que soy / ternura pa'l café / solo soy un terrón de azúcar / Sé que me funde el calor / sé desaparecer / cuando tú vienes es cuando me voy


Ela fala de si mesma como um "torro/cubo de açúcar", algo que se derrete, desaparece diante do calor: uma metáfora tão simples e ao mesmo tempo profunda sobre vulnerabilidade, efemeridade e presença que se dissipa. É pessoal, tangível, e ainda assim parece tocar uma dimensão quase sagrada, como se a sua própria fragilidade fosse ritualizada.





"Berghain" por Nicolas Méndez

E então Björk entra, em inglês, e o clima muda. Suas linhas também são como um mantra:


This is divine intervention / The only way to save us is through divine intervention / The only way I will be saved is through divine intervention


Aqui, o foco deixa de ser o corpo sensível da cantora e se projeta para o transcendente, o pássaro canta, para a 'necessidade de uma intervenção divina'. A repetição na letra cria quase uma aura ritualística que se contrapõe à intimidade doce de Rosalía. É fascinante ver como o diálogo entre elas vai do humano ao sagrado, e o arranjo musical reforça isso: a orquestra, o coro, as cordas dramáticas; tudo converge para uma sensação de ritual urbano e sobrenatural. Tal repetição na letra não é incomum em música, mas vale notar.

Além de espanhol e inglês, há partes em alemão, o que dá ainda mais camadas ao single. O uso do alemão me parece ligado a essa ideia de universalidade e também reforça a imponência, quase litúrgica, da faixa, e talvez seja um prelúdio do conceito do álbum Lux, que pelo título sugere luz, iluminação, algo que guia ou revela. Faz sentido pensar que o "divino" da letra se conecta com a luz do Lux: talvez seja sobre clareza através dessa luminosidade; um tema que promete permear o álbum que está por vir.





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Francisco P. Neto
Criador e editor do CaroCineasta.
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